sexta-feira, 31 de julho de 2015

Halloween - O Legado do Terror que vai além dos Clichês

Logotipo Original do Filme

Filmes de terror são quase sempre estereotipados. Ainda mais se tratando do gênero Slasher, que ficou muito popular nos anos 70 e 80, e acabou se tornando saturado. Apesar de que, ainda hoje, se lançam filmes desse estilo por aí. Por exemplo, o  recente The Gallows, ou A Forca, que iniciou a brincadeira do "Charlie, Charlie" que viralizou na internet. Apesar disso, personagens como Freddy Kruegger ou Jason Vorhess já fazem parte do imaginário popular e da cultura nerd, figurando em inúmeros filmes e até quadrinhos, jogos, dentre outras mídias, dada a sua importância e sucesso. O Slasher é um gênero de horror clássico, surgido, segundo alguns no filme Psicose, de 1960, do genial diretor Alfred Hitchcook, considerado mestre do suspense. Outros, porém, consideram O Massacre Da Serra Elétrica de 1974 como o pioneiro do gênero, devido a alguns clichês que estabeleceu.

Michael e sua grande companheira: A faca de Cozinha

O pressuposto básico desse tipo de filme é simples: um assassino, seja lá quais forem suas motivações, persegue e mata suas vítimas de forma incansável, enquanto as mesmas ou fogem pra sobreviver, ou tentam encarar o facínora e resolver o mistério do filme. De todos os filmes que citei porém, nenhum foi tão influente e tão plagiado com o tempo do que o excelente Halloween de John Carpenter, que me ajudou a tirar muitos preconceitos que eu particularmente tinha do gênero, além de garantir boas horas de diversão.

O grande Vilão Michael Myers

Halloween foi lançado em 1978, e foi um filme de baixíssimo orçamento, obrigando, curiosamente, até os atores principais usarem suas próprias roupas para que o figurino não saísse do orçamento da produção. Apesar disso, o sucesso foi garantido na época, lotando os cinemas e rendendo quase 10 vezes mais que o custo de produção (isso só nos EUA). É considerado clássico absoluto do terror, além de consagrar o diretor de John Carpenter, que dirigiu, produziu, escreveu e compôs a trilha sonora do filme. Também foi responsável por lançar a carreira de Jamie Lee Curtis, filha de Janet Leigh, a atriz que interpreta a clássica cena da jovem esfaqueada no banheiro em Psicose.

Dr. Samuel Loomis e seu "tratamento" para Michael

O filme narra a saga de Michael Myers, que aos 8 anos de idade, mata sua irmã mais velha a base de tesouradas numa noite do Haloween de 1963, sem nenhuma hesitação, portando uma máscara e uma faca, na pacata cidade de Haddonfield, interior dos EUA. O crime chocou o país e fez Michael ser trancado num sanatório numa cidade vizinha durante 15 anos. Durante esse tempo, Michael foi tratado pelo psiquiatra Dr. Samuel Loomis (interpretado pelo genial e já falecido Donald Pleasence famoso por filmes como Jesus de Nazaré e Com 007 só se vive Duas vezes, e que se imortalizou como ícone do terror/suspense graças a Halloween), depois de tentar todos os métodos possíveis para tratar Michael, conclui que o pequeno assassino é portador "do mal em sua mais pura essência" e deve ficar trancado pelo resto da vida. Infelizmente, na noite de Halloween de 1978, Michael foge do sanatório e inicia uma onda de matança. Roubando um macacão, uma faca de cozinha e uma máscara, (suas marcas registradas) e ao que tudo indica, se dirige para Haddonfield para terminar o que começou a 15 anos atrás, quando era apenas um garoto.

Jamie Lee Curtis como Laurie Strode

Dr. Loomis se dirige desesperadamente a Haddonfield, com objetivo de dar fim a Michael e parar sua onda de assassinatos. Michael, porém, quer a todo custo matar a jovem Laurie Strode (vivida por Jamie Lee Curtis) e fará tudo para cumprir seu objetivo, retirando quem quer que seja do caminho.

Michael e sua mania de acordar nas piores horas 

John Carpenter conseguiu mostrar toda sua genialidade ao criar um personagem único. Michael Myers, ao contrário da maior parte dos assassinos de filmes de terror, não recorre a matanças cruéis e cheias de sangue, ele é sutil, tenebroso e mata silenciosamente. No filme todo e na franquia quase toda, Michael não diz uma palavra. Ele pode estar em qualquer lugar, aparecer onde menos se espera, e num súbito, tomar a vida de suas vítimas. Ele não esboça sentimentos, nenhum, nunca. Isso é bem marcante e ressaltado pela sua máscara, sem expressão, que provavelmente serviu de base para a máscara de Jason em Sexta Feira 13 alguns anos depois.

Abaixo, A trilha Sonora do Filme, que imortalizou-se no cinema:



Outra coisa bem bacana é a relação dele com Dr. Loomis, um estilo que lembra bem a relação Drácula x Van Hellsing ou mesmo Frankestein vs o monstro que criou. O mal irremediável e o homem obcecado que tenta a todo custo acabar com ele. Criando assim um teor de ação, que caiu como uma luva no filme. As cenas onde Michael aparece criam tensão fantástica, muito pela trilha sonora incrivelmente simples e efetiva criada pelo diretor do filme e que até hoje é uma das mais emblemáticas do cinema, e pelo fato de Michael nunca correr ou se apressar, e sempre calmo, caminhar lentamente em direção a vítima que tenta fugir desesperadamente. É quase como se ele dissesse "você nunca poderá escapar" sem soltar uma única palavra!

E de aparecer nas piores horas também

No segundo Filme, Halloween II (chamado aqui no Brasil de Halloween II: O Pesadelo Continua de 1981) é revelado que a protagonista Laurie Strode é na verdade a irmã mais nova de Michael, adotada por outra família e possivelmente, única sobrevivente do massacre promovido por ele (não fica claro, mas ao que parece, ele mata o resto da família) em 1963. O filme se passa na mesma noite do primeiro filme, onde Laurie após o ataque de Michael vai parar no hospital. Dr. Loomis, mesmo após alvejar Michael com vários tiros, sabe que o assassino ainda esta vivo (motivo que só é explicado no Filme 6) e novamente, decide persegui-lo. Michael então inicia uma matança insana no hospital, até que é encontrado por Loomis e Laurie, sendo que o Dr. Loomis decide dar um fim ao assassino naquela noite, de uma vez por todas.

Com o sucesso, Halloween rendeu inúmeras sequencias. Halloween III porém, não é protagonizado por Michael, que rendeu duras críticas dos fãs. O filme apesar de um enredo aceitável, sobre um cientista que quer dominar o mundo no halloween, é um filme tosco. Com péssimas atuações e efeitos especiais sofríveis, que rendeu um fracasso  de bilheteria e mais críticas.

Danielle Harris como a jovem Jamie Lloyd em Halloween IV

Os produtores não veem outra solução a não ser trazer Michael de volta em Halloween IV: The Return Of Michael Myers (Halloween IVO retorno de Michael Myers de 1988) Nessa nova saga, Laurie Strode morre em um acidente de carro e quem protagoniza a série é sua filha, a pequena Jamie Lloyd (vivida pela talentosa Danielle Harris, ainda criança) a menina passa a ter inúmeros pesadelos com o tio, que apesar de dado como inválido, foge novamente do sanatório e inicia um novo ciclo de matança. Dr. Loomis, também lesionado devido ao último confronto com Michael, decide investigar e descobre a existência de Jamie, e como já esperado, volta para Haddonfield para protegê-la e evitar uma desgraça no halloween de 1988.

Imagem de Halloween IV

As sequências, como já era de se esperar, passam a desgastar a franquia, e já não levam o mesmo sucesso dos primeiros filmes. Halloween V: The Revenge Of Michael Myers (Halloween V: A vingança de Michael Myers, de 1989) decepcionou os fãs por não levar em conta a reviravolta do final do filme IV, que por si só, seria o final perfeito para a franquia. Nesse novo confronto, todos pensam que Michael está morto e vivem suas vidas como se nada nos últimos anos tivesse acontecido em Haddonfield. A pequena Jamie, agora se trata num refúgio psiquiátrico para crianças, e tem inúmeras alucinações com Michael. Dr. Loomis, mais obcecado do que nunca, sabe que seu paciente mais famoso ainda está vivo.

O incansável e obcecado Dr.Loomis

O filme em si não é de todo ruim, e traz pontos bons, como a inserção de um novo vilão, que explicaria o próximo filme, mas ainda assim, é fraco se comparado com os filmes passados. Um momento impressionante nessa sequencia, é quando Michael prestes a esfaquear sua sobrinha ouve ela o chamando de forma doce e gentil de "tio". Essa cena foi muito tocante pra mim, pois ele reluta em matá-la, e pela primeira vez, tira a máscara e mostra seu rosto a sobrinha, que o toca, mostrando que o vilão ainda tem um mínimo de humanidade.

"Vou acabar com você antes que Rob Zombie faça um Reboot"

O sexto filme, é na minha opinião o pior de todos. Halloween VI: The Curse Of Michael Myers (No Brasil, Halloween VIA Ultima Vingança de 1995). O único ponto positivo nesse filme é explicar, ainda que de maneira confusa, a origem da maldição de Michael Myers, que mesmo esfaqueado, levando tiros e caindo num poço, sempre volta para aterrorizar suas vítimas, Tendo como origem uma antiga maldição celta. O filme também traz de volta Jamie Lloyd (agora adulta) e o garoto Tommy, mais velho, como protagonista (Tommy é o garoto que Laurie Strode cuidava como babá, no primeiro filme). O filme também é o ultimo de Donald Pleasence, o eterno Dr. Loomis, que faleceu no mesmo ano, tendo o filme dedicado a ele. Com diálogos fracos, enredo confuso, pouca ação e quase nenhum suspense, o filme é péssimo, com um final pavoroso e um começo e meio tediosos, além de encerrar a franquia original de maneira horrenda. Infelizmente, pois apesar dos pesares, o filme tem uma boa ideia inicial.

Michael e Laurie: 20 Anos Depois

Em 1998, com ideia original desenvolvida pela atriz Jamie Lee Curtis, surge Halloween H2O: Twenty Years Later (Halloween H2O: Vinte Anos Depois). Esse Filme desconsidera os eventos dos filmes 4, 5 e 6. Aqui, Laurie Strode simula a própria morte num acidente de carro e passa a viver no interior da Califórnia, sob a identidade falsa de Kari Tate, Diretora de um internato, onde também vive com o filho. O Dr Loomis agora já está morto. E Michael, claro, uma hora ou outra descobriria a verdade e iria voltar para terminar o trabalho que começou há 20 anos atrás. O grande diferencial desse filme, que torna ele excelente, é o fato que Laurie, diferente dos demais filmes, não sai por aí fugindo e gritando feito desesperada, ela decide ficar e encarar o irmão, fazendo de tudo para deter seu parente mascarado. A cena de Laurie se esquivando das facadas do irmão na Capela da escola é genial e o final também surpreende.

Participantes do Reality Show em Halloween: Ressurection
Halloween: Ressurection ( Halloween: Ressureição) de 2002, é uma continuação de H2O, novamente estrelada por Jamie Lee Curtis. Michael consegue, de maneira brilhante, escapar vivo dos eventos do filme anterior e afoga sua irmã em loucura. Presa num sanatório, Laurie aguarda pacientemente o irmão, que vem matá-la sem misericórdia. Esse filme é bastante estranho, pois os primeiros 20 ou 30 minutos garantem uma sequência fenomenal, onde Laurie usa seus melhores artifícios para eliminar Michael. A frase mais marcante de toda a franquia é desse filme, onde ela solta a icônica "See You In Hell" (Te vejo no inferno) depois de beijar a máscara do irmão.

Exemplo de sujeito Família: Michael sempre aparece pra dar um "oi" a Irmã!

Ainda assim, toda a emoção do começo do filme é praticamente jogada no lixo. A ideia do restante do filme não é ruim, contudo. Um grupo de pessoas decide realizar um Reality Show exibido 24 horas na internet, onde um grupo passa a viver na casa da família Myers, que graças a tragédia de Michael, virou um ponto turístico de Haddonfield, com fama de "mal assombrada". É claro, Michael não gostou nada da ideia e decide voltar pra fazer uma faxina na casa. Os personagens, tirando obviamente Laurie e Michael, não tem carisma nenhum. O que vem a seguir no filme  é chato e sem novidade. Apesar de tudo, o filme começa majestosamente bem e termina de forma bem ruim, deixando os fãs a ver navios.

A antipática Laurie Strode do Reboot de 2007

Recentemente, foram lançados mais dois filmes da série, que na verdade são releituras dos dois Halloweens originais. Halloween (2007) ou Halloween: O Inicio, aqui no Brasil e Halloween II de 2009. Ambos os filmes são dirigidos por Rob Zombie (conhecido por sua carreira como vocalista da banda White Zombie e por dirigir filmes como Rejeitados Pelo Diabo). A releitura porém fracassa miseravelmente ao trazer uma tentativa de explicar o porque da personalidade assassina de Michael.

Ambos os reboots são fracos, que descaracterizam completamente os personagens dos filmes anteriores, tentando colocar a culpa da personalidade de Michael a uma família desestruturada e omissa. Os reboots tem muitos atores conhecidos como Tyler Mane (Dentes-de-Sabre dos filmes de X-men) como Michael Myers e a já adulta Danielle Harris que viveu a pequena Jamie Lloyd, agora em outro papel.

Michael Myers: Versão Clássica e Versão Reboot

Apesar disso, a sequência de Rob Zombie não consegue se salvar, com um roteiro estranho, onde Michael perde toda a sutileza, matando com muito exagero e sangue. Rob conseguiu transformar o mal encarnado e ícone do terror, em um débil mental e delinquente juvenil. Alguns personagens mudam completamente, de forma que ficam irreconhecíveis. Laurie, que no filme original é uma garota tímida e nerd, vira uma garota boca suja e com diversos problemas familiares. Dr. Loomis, apesar de ser mais fiel na versão de 2007, na versão de 2009 vira um mercenário, que tenta se aproveitar da fama de seu paciente pra ganhar dinheiro com livros sensacionalistas. Resumindo, o clássico do terror se torna um filme de terror clichê, básico e previsível, infelizmente.

Ainda assim, há quem defenda esses dois filmes, dizendo que foram responsáveis por trazer uma "nova leitura" do clássico de John Carpenter.

Danielle Harris cresceu (e como) ao lado de seu "Querido Tio"

Apesar dos pesares, Halloween cravou suas garras na história do cinema, criando uma mitologia própria, que rendeu varias sequências, influenciou diversos filmes, e tem até livros e HQs com histórias próprias. É um filme que eu recomendo, especialmente as versões I, II e IV, que podem agradar até mesmo a quem não é fã de terror ou suspense, surpreendendo bastante, pelo excelente  e envolvente enredo. Valeu!

Michael Myers na versão de 2007

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